quarta-feira, 20 de maio de 2015

SOLIDÃO...


Segundo o dicionário on-line Wikipédia, Solidão é um sentimento no qual uma pessoa sente uma profunda sensação de vazio e isolamento. A solidão é mais do que o sentimento de querer uma companhia ou querer realizar alguma atividade com outra pessoa, não por que simplesmente se isola mas porque os seus sentimentos precisam de algo novo que as transforme. 

Um dos principais temas existencialistas é a solidão, que passa a ser arte do encontro com o vazio existencial. A solidão pode ser um sentimento causador de extrema angústia, capaz de nos colocar diante de um portal em um mundo interior. 


“Por muito tempo achei que a ausência é falta.

E lastimava, ignorante, a falta.

Hoje não a lastimo.

Não há falta na ausência. A ausência é um estar em mim

E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,

Que rio e danço e invento exclamações alegres,

Porque a ausência, essa ausência assimilada,

Ninguém a rouba mais de mim.”

                                         Carlos Drummond de Andrade




A ideia que a maioria das pessoas faz da solidão é de um sentimento doido que nos acomete em determinados momentos. Na verdade, a solidão, uma condição imanente ao homem, faz parte da vida. Só que em determinados momentos a percebemos mais agudamente e não sabemos como lidar com ela. Muitos sofrem do "medo da solidão" e assim absolutamente não se encontram. A sensação de vazio e solidão andam juntas. Por mais que se viva junto das pessoas que se ama, por mais que se interaja socialmente não será possível evitar, lá no fundo, a certeza de ser só.

A criança descobre a solidão quando tem a consciência de que precisa do outro, pois acredita que, se for "aceita" na sua "tribo", nunca ficará só, ou seja, para ela, como para qualquer adulto, não ser estimada é um fracasso; já que em nossa cultura costuma-se atribuir que não é bom estar só.
Mas  estar juntos não quer dizer comunhão. As grandes comunhões não acontecem em meio aos risos das grandes "rodas de amigos". Elas acontecem paradoxalmente na ausência do outro. O estar juntos, frequentemente, é uma forma terrível de solidão, um artifício para evitar o contato conosco mesmos. Sartre chegou ao ponto de dizer que "o inferno é o outro". 
É aceitável querer ficar só temporariamente, para "desligar-se de tudo". Mas se uma criança ou adulto mencionar, dentro do grupo no qual está inserido, que gosta de estar sozinho, não para descansar, mas por preferência pessoal, os outros pensarão que há qualquer coisa de errado, que uma aura de isolamento paira ao redor daquela criança ou daquele adulto. E se alguém se mantém muito isolado, os outros têm a tendência a achar que fracassou, pois para eles é inconcebível que uma uma criança ou adulto fique sozinha por livre escolha.
Kierkegaar, há cem anos passados, escreveu que em
sua época "as pessoas fazem de tudo o que é possível em matéria de diversão e de solidão, assim como nas florestas da América mantêm-se à distância os animais selvagens por meio de tochas acesas, gritos e toques de chocalhos". O silêncio é um grande crime, pois significa solidão e medo.
O medo de estar só deriva, em grande parte, da ansiedade de perder a consciência de si mesmo. Quem contempla a ideia de ficar só por um longo período de tempo, sem ninguém com quem conversar, sem rádio para projetar ruídos no ar, em geral, teme sentir se "perdido", despojado dos limites de si mesmo, sem nada contra o que colidir, nada
para orientá-lo. Em sua forma extremada, esse temor de se desorientar é o medo da psicose. Quem se encontra à beira da psicose experimenta muitas vezes uma urgente necessidade de procurar contato com outros seres humanos. É uma reação sadia, pois esse relacionamento constitui uma ponte para a realidade.
A aceitação social, o "ser estimado" tem tanta importância porque mantém à distância esta sensação de isolamento. Quando a pessoa está cercada de cordialidade, imersa no grupo, é reabsorvida como se voltasse ao ventre materno, em simbologia analítica. Temporariamente esquece a solidão, embora ao preço da renúncia à sua existência como personalidade independente. 

Entrar em contato com a solidão não é algo fácil. Mas ao compreendê-la, ao constatar que cada um é único, com sua própria biografia, sua maneira própria de buscar sentido para sua vida, também se percebe que está aí a grandeza e a beleza da condição humana. O homem vive a solidão de maneira indissolúvel. Nasce e vive só, deixando o espectro da solidão apenas e tão somente quando morre e, o que é mais agravante, não tem conhecimento do desespero que a solidão provoca em seu semelhante, legando a si isoladamente essa problemática como se fosse algo pessoal e individual. 
Ao se pensar na solidão como fazendo parte da existência humana, assumimos a nossa condição de seres únicos e, portanto, responsáveis pela dimensão dada a nossa existência. Os homens "empalhados" acabam por tornar-se ainda mais solitários, por mais que se apoiem nos outros, pois gente vazia não possui base necessária para aprender a amar.
 


ANGERAMI-CAMON, V. A. A. Psicoterapia Existencial. São Paulo: Pioneira, 1998.

MAY, Rollo. O homem à procura de si mesmo. Petrópolis: Vozes, 2004. 30ª ed.

ALVES, Rubens. A solidão amiga. Correio Popular. 30 de junho de 2002.
 






Enquanto não atravessamos a dor de nossa própria solidão, continuaremos  a nos buscar em outras metades. 
Para viver a dois, antes, é necessário ser um.
Fernando Pessoa