A ideia que a maioria
das pessoas faz da solidão é de um sentimento doloroso que nos acomete em
determinados momentos.
Aquela sensação de mal-estar que nos invade na
sexta-feira à noite ou no domingo à tarde quando estamos sozinhos em casa, sem
programa. Ou é o estado em que um amigo se encontra porque está passando por um
período difícil, depois de uma separação.
“Tenho medo de ficar sozinho”
. Quem nunca pensou sobre isso que atire a primeira pedra...
A solidão, fato
inevitável da condição humana, retrata o desespero de não ter alguém que nos
reconheça enquanto pessoa e está diretamente ligada à ansiedade e ao desespero
de ser único nessa situação, como se somente outra pessoa pudesse preencher as
lacunas que nos separam dos outros e de nós mesmos.
A solidão ou o medo de
estar sozinho, no entanto, se entendido como possibilidade de estar em contato
consigo mesmo possibilita o homem à procura de alternativas existenciais muitas
vezes contrárias às formas desesperadoras e fechadas, pois sua compreensão na
constatação que cada um é único em sua própria historicidade, trajetória,
biografia e maneira própria de buscar sentido para a vida também se percebe que
ela demonstra a grandeza e a beleza da condição humana (Angerami,2007).
“O homem nasce e vive
só, deixando esse faro apenas na morte. E não se da conta da condição de
solidão que seu semelhante se encontra”. Mesmo se vivêssemos numa sociedade
ideal, ainda assim, a solidão atormentaria a vida humana. O confronto com a
própria solidão leva o homem a buscar formas alternativas de existência para
amenizá-la.
Muitas vezes nos
percebemos como parte de um todo – de uma família, de um grupo de amigos, de
uma comunidade. Mas chegará o ponto em que tomaremos consciência de que a
realização pessoal depende das próprias possibilidades. Em suma, por mais que
se viva junto de quem se ama, por mais que se interaja socialmente, não será
possível evitar, lá no fundo, a certeza de ser só.
Entender o que é um ser
ajuda a compreender a solidão. Ser é tudo aquilo que tem vida. Ao contrário de
um objeto inanimado, o homem tem consciência desse ser. Uma pedra pode sofrer
solidão? Não pode, porque não tem consciência de que existe outra pedra.
Quem é que não sentiu
essa espécie de vazio alguma vez, sozinho em casa? A televisão não distrai, a
música, em vez de consolar, lembra situações em que havia pessoas queridas por
perto, torna-se impossível concentrar-se na leitura de um livro. Mas basta
telefonar para alguém e falar uns minutos para que mude esse panorama sombrio.
Entrar em contato com a
solidão não é fácil. Mas após compreendê-la, ao constatar que cada um é único,
com sua própria história, percurso, biografia, sua maneira pessoal de procurar
sentido para a sua vida, também se percebe estar aí a grandeza e a beleza da
condição humana.
Caso a solidão lhe
pareça insuportável, procure ajuda. A psicoterapia fará com que você compreenda
este tema existencial que tanto aflige as gerações passadas e a nossa atual
geração.
Para refletir:
Percepção de solidão - Martha
Medeiros
Uma mulher entra no
cinema, sozinha. Acomoda-se na última fila. Desliga o celular e espera o início
do filme. Enquanto isso, outra mulher entra na mesma sala e se acomoda na
quinta fila, sozinha também. O filme começa.
Charada: qual das duas
está mais sozinha?
Só uma delas está
realmente sozinha: a que não tem um amor, a que não está com a vida preenchida
de afetos. Já a outra foi ao cinema sozinha, mas não está só, mesmo numa
situação idêntica a da outra mulher. Ela tem uma família, ela tem alguém, ela
tem um álibi.
Muitas mulheres já
viveram isso - e homens também. Você viaja sozinha, almoça sozinha em
restaurantes, mas não se sente só porque é apenas uma contingência do momento -
há alguém a sua espera em casa. Esta retaguarda alivia a sensação de solidão.
Você está sozinha, não é sozinha.
Então de repente você
perde seu amor e sua sensação de solidão muda completamente. Você pode
continuar fazendo tudo o que fazia antes - sozinha - mas agora a solidão pesará
como nunca pesou. Agora ela não é mais uma opção, é um fardo.
Isso não é nenhuma
raridade, acontece às pencas. Nossa percepção de solidão infelizmente ainda
depende do nosso status social. Se você tem alguém, você encara a vida sem
preconceitos, você expõe-se sem se preocupar com o que pensam os outros, você
lida com sua solidão com maturidade e bom humor. No entanto, se você carrega o
estigma de solitária, sua solidão triplicará de tamanho, ela não será algo
fácil de levar, como uma bolsa. Ela será uma cruz de chumbo. É como se todos
pudessem enxergar as ausências que você carrega, como se todos apontassem em
sua direção: ela está sozinha no cinema por falta de companhia! Por que ninguém
aponta para a outra, que está igualmente sozinha?
Porque ninguém está, de
fato, apontando para nenhuma das duas. Quem aponta somos nós mesmos, para nosso
próprio umbigo. Somos nós que nos cobramos, somos nós que nos julgamos. Ninguém
está sozinho quando curte a própria companhia, porém somos reféns das
convenções, e quando estamos sós, nossa solidão parece piscar uma luz vermelha
chamando a atenção de todos. Relaxe. A solidão é invisível. Só é percebida por
dentro.
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