domingo, 17 de fevereiro de 2013

Solidão...



A ideia que a maioria das pessoas faz da solidão é de um sentimento doloroso que nos acomete em determinados momentos. 
Aquela sensação de mal-estar que nos invade na sexta-feira à noite ou no domingo à tarde quando estamos sozinhos em casa, sem programa. Ou é o estado em que um amigo se encontra porque está passando por um período difícil, depois de uma separação.

“Tenho medo de ficar sozinho” . Quem nunca pensou sobre isso que atire a primeira pedra... 

A solidão, fato inevitável da condição humana, retrata o desespero de não ter alguém que nos reconheça enquanto pessoa e está diretamente ligada à ansiedade e ao desespero de ser único nessa situação, como se somente outra pessoa pudesse preencher as lacunas que nos separam dos outros e de nós mesmos.

A solidão ou o medo de estar sozinho, no entanto, se entendido como possibilidade de estar em contato consigo mesmo possibilita o homem à procura de alternativas existenciais muitas vezes contrárias às formas desesperadoras e fechadas, pois sua compreensão na constatação que cada um é único em sua própria historicidade, trajetória, biografia e maneira própria de buscar sentido para a vida também se percebe que ela demonstra a grandeza e a beleza da condição humana (Angerami,2007).
 
“O homem nasce e vive só, deixando esse faro apenas na morte. E não se da conta da condição de solidão que seu semelhante se encontra”. Mesmo se vivêssemos numa sociedade ideal, ainda assim, a solidão atormentaria a vida humana. O confronto com a própria solidão leva o homem a buscar formas alternativas de existência para amenizá-la.

Muitas vezes nos percebemos como parte de um todo – de uma família, de um grupo de amigos, de uma comunidade. Mas chegará o ponto em que tomaremos consciência de que a realização pessoal depende das próprias possibilidades. Em suma, por mais que se viva junto de quem se ama, por mais que se interaja socialmente, não será possível evitar, lá no fundo, a certeza de ser só.

Entender o que é um ser ajuda a compreender a solidão. Ser é tudo aquilo que tem vida. Ao contrário de um objeto inanimado, o homem tem consciência desse ser. Uma pedra pode sofrer solidão? Não pode, porque não tem consciência de que existe outra pedra.
Quem é que não sentiu essa espécie de vazio alguma vez, sozinho em casa? A televisão não distrai, a música, em vez de consolar, lembra situações em que havia pessoas queridas por perto, torna-se impossível concentrar-se na leitura de um livro. Mas basta telefonar para alguém e falar uns minutos para que mude esse panorama sombrio.

Entrar em contato com a solidão não é fácil. Mas após compreendê-la, ao constatar que cada um é único, com sua própria história, percurso, biografia, sua maneira pessoal de procurar sentido para a sua vida, também se percebe estar aí a grandeza e a beleza da condição humana.

Caso a solidão lhe pareça insuportável, procure ajuda. A psicoterapia fará com que você compreenda este tema existencial que tanto aflige as gerações passadas e a nossa atual geração.

Para refletir:


Percepção de solidão - Martha Medeiros

Uma mulher entra no cinema, sozinha. Acomoda-se na última fila. Desliga o celular e espera o início do filme. Enquanto isso, outra mulher entra na mesma sala e se acomoda na quinta fila, sozinha também. O filme começa.

Charada: qual das duas está mais sozinha?

Só uma delas está realmente sozinha: a que não tem um amor, a que não está com a vida preenchida de afetos. Já a outra foi ao cinema sozinha, mas não está só, mesmo numa situação idêntica a da outra mulher. Ela tem uma família, ela tem alguém, ela tem um álibi.

Muitas mulheres já viveram isso - e homens também. Você viaja sozinha, almoça sozinha em restaurantes, mas não se sente só porque é apenas uma contingência do momento - há alguém a sua espera em casa. Esta retaguarda alivia a sensação de solidão. Você está sozinha, não é sozinha.

Então de repente você perde seu amor e sua sensação de solidão muda completamente. Você pode continuar fazendo tudo o que fazia antes - sozinha - mas agora a solidão pesará como nunca pesou. Agora ela não é mais uma opção, é um fardo.

Isso não é nenhuma raridade, acontece às pencas. Nossa percepção de solidão infelizmente ainda depende do nosso status social. Se você tem alguém, você encara a vida sem preconceitos, você expõe-se sem se preocupar com o que pensam os outros, você lida com sua solidão com maturidade e bom humor. No entanto, se você carrega o estigma de solitária, sua solidão triplicará de tamanho, ela não será algo fácil de levar, como uma bolsa. Ela será uma cruz de chumbo. É como se todos pudessem enxergar as ausências que você carrega, como se todos apontassem em sua direção: ela está sozinha no cinema por falta de companhia! Por que ninguém aponta para a outra, que está igualmente sozinha?

Porque ninguém está, de fato, apontando para nenhuma das duas. Quem aponta somos nós mesmos, para nosso próprio umbigo. Somos nós que nos cobramos, somos nós que nos julgamos. Ninguém está sozinho quando curte a própria companhia, porém somos reféns das convenções, e quando estamos sós, nossa solidão parece piscar uma luz vermelha chamando a atenção de todos. Relaxe. A solidão é invisível. Só é percebida por dentro.

Você convive bem com a solidão? Comente...